E o Consumo

No modelo social que desenvolvemos o consumo é natural, portanto não é bom e nem mau. A questão está na função social do consumo: criamos a cada dia uma sociedade onde as pessoas não se definem pelo que são, mas pelo que consomem, pelo que ostentam. Os estímulos ao consumo permeiam toda iniciativa comercial, desde as estratégias mais triviais como o aumento proposital do diâmetro dos bocais dos tubos de pasta de dente, e gôndolas de guloseimas estrategicamente posicionadas ao seu lado nas filas de caixa em supermercados até as mais pungentes, que balizam a própria identidade do individuo àquilo que ele consome.

Planejar o consumo é uma idéia fundamental na sustentabilidade, no entanto o mercado entende o consumo puramente como ferramenta mantenedora do atual modelo econômico. E seu planejamento tem como premissa estimular o consumo por todas as razões possíveis, a despeito da necessidade. É nesse contexto que nos deparamos com situações como o lançamento de duas ou três gerações da mesma tecnologia da moda num mesmo ano, elevando a um novo patamar o velho conceito de obsolescência planejada.

Cabe a nós questionarmos se queremos orientar nosso consumo pelo valor simbólico e discriminatório que pode ser atribuído aos bens ante ao seu real valor utilitário, e qual as conseqüências de construirmos uma sociedade baseada em consumo e crédito. Porque se por um lado é inerente ao modelo socioeconômico o consumo é também predatório por natureza, portanto existem limites também naturais. Aqui é que a sustentabilidade tem ajudado a delinear os limites do consumismo; sustentabilidade que vê pela perspectiva da interdependência e propõe sair das pirâmides sociais e econômicas, passando a viver efetivamente em rede. Temos a responsabilidade de consumir sem comprometer as gerações futuras.